Atualmente há uma grande comoção mundial em torno da busca ou do reconhecimento da liderança. É notório a necessidade visceral que a sociedade atomizada pelo excesso de informações e pela falta de conhecimento manifesta em sua busca por um "eixo" doador de sentido às experiências cotidianas e às avalanches instantâneas de informações, dados, inovações etc.
Vivemos na era da criatividade e da velocidade, e precisamos, como sempre precisamos como espécie, dotar de sentido o universo caótico ao nosso redor. É dessa busca de sentido que nasce a necessidade social de "liderança" e é dessa necessidade de liderança que trato em pesquisas e trabalhos recentes como os treinamentos registrados A Jornada do Herói® e A Arte da Guerra Oriental®.
Logo do treinamento "A Jornada do Herói" Criado e patenteado pelo Instituto ATENA, em 2004. |
Estive pensando, em anos trabalhando no ramo de treinamento pessoal e empresarial, sobre as características de um líder real e, observando muitos dos fenômenos psíquicos, gerenciais e culturais do ambiente gerencial e muitos dos fenômenos sociais, históricos e políticos da história da humanidade, creio que a boa liderança possa ser alicerçada em dois valores que se equilibram mutuamente. Os gregos costumavam chamar esses valores de "Areté" e "Timé", o que nós chamaríamos de "superioridade" e "honra". Não é à toa que, para eles, esses eram os valores que formavam o perfil do "Herói".
A Areté, superioridade
A Areté corresponde à característica de "ser o melhor", o que nós poderíamos traduzir como "superioridade". Na Grécia Clássica havia o grupo dos "melhores" ou dos "superiores", os Aristói. Os conceitos que determinavam sua superioridade estão, hoje em dia, em desuso e não se adequam mais às nossas vivências cotidianas. Agamêmnon, por exemplo, foi o rei dos reis de seu tempo e era considerado um Aristói porque sua linhagem descendia diretamente de Zeus, o rei dos deuses do Olimpo. Mas o que é um "aristói" hoje em dia?
Hoje em dia um Aristói poderia ser compreendido como um indivíduo que é capaz de colocar em movimento tudo o que planeja para sua vida em todos os aspectos. Seria aquele que faz aquilo a que se pretende e que é reconhecido por isso pelos que lhe importam receber tal reconhecimento. Basicamente ele planeja, executa e é reconhecido.
A Areté não é algo que seja dado e sim algo que seja conquistado e conscientemente procurado. A principal característica da formação de um Aristói é a disciplina, através da qual ele organiza sua vida e sua constante preparação e trabalho para a busca do mérito, prêmio mais importante a que almeja, o merecimento pelas glórias alcançadas.
Timé, a honra
A pensarmos na superioridade pura e simples, poderíamos viver num mundo de pequenos déspotas ou, hoje em dia, de pequenos senhores que ministrariam suas "carteiradas" a torto e a direito à espera de que sua superioridade seja mais válida que a de outrem. Seria a lei do mais forte, o homem como lobo do homem como temia o filósofo inglês Thomas Hobbes.
É necessário que haja algum equilíbrio, algum valor que se interponha e se sobreponha às diversas "superioridades" e as conclame para além dos conflitos inevitáveis. Os gregos perceberam isso e então interpuseram o conceito de "Timé" (honra) entre os detentores de superioridade (areté). A honra garantiria que todos se submetessem a uma mesma justiça, por exemplo, ou que acordos firmados entre eles deveriam ser respeitados sob pena de perda dessa mesma honra, o que acarretaria em desgraça social, ostracismo e perda de status.
Até o famoso oráculo da cidade grega de Delfos, na Grécia, que era o centro de referência para as grandes discórdias e contendas, assim como das dúvidas existenciais, continha na sua fachada mensagens que buscavam conter o abuso do poder dos Aristói: "Gnoti Sáuton", o famoso "Conhece-te a ti mesmo" que se referia não só a quem se é, mas aos seus predescessores e sucessores à sua linha familiar e também a segunda frase "Méden Ágan", "nada além da justa medida" que era um lembrete para que nunca atravessemos o limiar de nossa honra ou da justa medida nos nossos atos.
Até o famoso oráculo da cidade grega de Delfos, na Grécia, que era o centro de referência para as grandes discórdias e contendas, assim como das dúvidas existenciais, continha na sua fachada mensagens que buscavam conter o abuso do poder dos Aristói: "Gnoti Sáuton", o famoso "Conhece-te a ti mesmo" que se referia não só a quem se é, mas aos seus predescessores e sucessores à sua linha familiar e também a segunda frase "Méden Ágan", "nada além da justa medida" que era um lembrete para que nunca atravessemos o limiar de nossa honra ou da justa medida nos nossos atos.
A Timé nas empresas
O desenvolvimento da Timé se observa hoje na cultura empresarial quando percebemos o crescimento das preocupações concernentes à:
. Responsabilidade social
. Responsabilidade ambiental
. Disciplina financeira
Sem essas observações em relação à Timé a maior parte das indústrias mundiais, das grandes corporações aos pequenos empreendimentos simplesmente não tem defesas contra, por exemplo, uma campanha negativa veiculada por redes sociais. Sem contar que temos vivido a tendência do "just-in-time", da lógica de produção clara e objetiva, da preocupação objetiva e meritória com o nosso planeta, nossa saúde, nossa liquidez e acompanhamento claro e objetivo dos nossos investimentos (sejam em relacionamentos, aprendizado ou financeiros mesmo).
A preocupação com a honra de uma empresa, com sua imagem social, com sua colaboração ao universo no qual está inserida dentro de sua cadeia produtiva e (para as maiores) dentro do planeta, é um imperativo lógico para os que pensam seus negócios de forma estratégica e sustentável.
A preocupação com a honra de uma empresa, com sua imagem social, com sua colaboração ao universo no qual está inserida dentro de sua cadeia produtiva e (para as maiores) dentro do planeta, é um imperativo lógico para os que pensam seus negócios de forma estratégica e sustentável.
No nosso contexto as palavras "estratégia" e "sustentabilidade" acabam virando sinônimos empresariais de Areté e Timé, da nossa superioridade e da nossa honra.
Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
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