segunda-feira, 27 de junho de 2011

Nova versão da Palestra on-line da Jornada do Herói!

O grande amigo Edegar Ferreira fez para mim uma nova e melhorada versão da Palestra On-Line sobre o treinamento A Jornada do Herói, que será ministrado em Niterói nos dias 9 e 16 de julho.

Para ver a nova e melhorada versão da palestra clique AQUI.
Ou aqui: http://www.megavideo.com/?v=MJ1MYHZQ

Para fazer sua inscrição no treinamento criado e patenteado pelo Instituto ATENA, escreva para contato@institutoatena.com


Bem vindo à Jornada!

Entre Ulisses e Aladim, os primeiros passos da Jornada

Imagem da Educação Iniciática
Primeira fase da Jornada do Herói
"Então Al-Adim recebeu as instruções do homem que se apresentou como seu tio distante, para que entrasse na caverna sob as areias do deserto e, sem tocar em nenhuma das pedras preciosas e jóias em ouro puro e madrepérola, passasse direto pelas árvores de esmeraldas cujas maçãs eram rubis e pegasse apenas a lâmpada de dourado fosco e empoeirada, no fim dos jardins de diamantes..."

"Então Ulisses - disfarçado por Atená na forma de um mengido - segurou o calcanhar de seu filho Telêmaco, e disse-lhe 'Ainda não, não aqui, nem agora, mas breve', e o ódio que aquecia suas veias contra os invasores de seu reino e perturbava-lhe o raciocínio deu lugar a um caudaloso rio que já não mais se apressava, pois sabia que o mar estava próximo..."

Treinamento e foco
Todo e qualquer comportamento em nossa vida foi antes de alguma forma "treinado", até o mais comum dos atos, o andar, ou a mais "natural" das nossas ações como o pensar ou o falar foram arduamente incentivados e treinados, do nada à maestria. Quem tem contato com crianças sabe bem disso. O que tomamos por natural nada mais é do que uma habilidade treinada à exaustão, até que realmente se torne 'natural', parte constituinte de nossa natureza e identidade.

A primeira parte do treinamento da Jornada do Herói constitui exatamente essa parte chamada por Joseph Campbell de "Educação Iniciática". Os aprendizados necessários para seguirmos viagem rumo não só de nossas metas, mas ao melhor de nós mesmos. O primeiro aprendizado, exposto na primeira citação da história de Aladim, nos fala sobre a noção de foco e do quanto podemos nos perder com as mil e uma "pedras brilhantes" no caminho, quando não sabemos exatamente o que queremos, exatamente em direção a que estamos nos movendo.

A lanterna no final do jardim de rubis
O início da jornada compreende justamente uma estruturação de uma meta. Partimos do pressuposto básico de que um treinamento, seja ele de qual ordem for, deve ter uma meta, um ponto de referência final para que saibamos em que estamos interessados, qual a razão de enveredarmos por aquele caminho, aprendermos aquelas técnicas e ouvirmos aquelas histórias. Para tudo na vida há que termos uma finalidade, então a primeira coisa dentro do treinamento da Jornada do Herói é justamente definirmos esse foco, esse porto final que nos justifique remarmos braços e mentes por dois dias até transformarmos a distância em memória e aprendizado.

Embelezar o jardim para "pescar" borboletas
Os gregos tinham uma deusa da vitória, chamada Nike (familiar o nome?) e essa deusa era representada como uma pequena divindade alada que pousava somente sobre as palmas das mãos de dois outros deuses: Zeus - o rei dos deuses olímpicos - e Atená - sua filha e deusa da sabedoria, estratégia, guerra, justiça... Ela era representada na forma de uma deusa-fada, justamente porque eles compreendiam que ela possuía um  comportamento semelhante ao de uma borboleta, ou seja, não corremos atrás da borboleta, mas criamos as condições necessárias a que ela venha até nós.
Nike "a Vitória" sobre a mão de Atená

Quando Ulisses, com seu reino invadido por pretendentes que disputavam a mão de sua esposa por acreditarem que ele não mais voltaria dos vinte anos que passou longe de casa - dez combatendo em Tróia e mais dez perdido no mar por haver ofendido ao deus Poseidon - evitou que seu filho caísse nas chacotas dos pretendentes e "perdesse a razão", justificando que eles o assassinassem, ele não estava com medo ou sem interesse em salvaguardar sua honra pessoal ou a honra de seu filho, Telêmaco, mas observando qual seria o melhor momento para efetivamente eliminar os problemas e ameaças definitivamente. Discípulo preferido da deusa Atená, Ulisses já possuía sabedoria suficiente para perceber que reagir com fúria só lhe traria maiores problemas, de forma que buscou uma situação em que apenas os dois, juntos, pudessem eliminar todos os mais de vinte pretendentes de sua esposa... e em menos de um dia, todos estavam chacinados pelo arco de Ulisses e pelas mãos de Telêmaco.

O segundo aprendizado inicial da Jornada do Herói versa justamente sobre a noção de oportunidade, sobre como criá-la e sobre como controlar os próprios estados internos. É a partir daí que tudo tem início.

Bem vindo aos primeiros passos da Jornada do Herói

Texto por: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
Criador do Treinamento registrado A Jornada do Herói

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Katábasis: Salto para a coragem

"Não há lugar na terra onde a morte não nos possa alcançar - mesmo que voltemos a cabeça uma e outra vez perscrutando em todas as direções, como numa terra estranha e suspeita... Se houvesse algum modo de conseguir abrigo contra os golpes da morte - não sou homem de recuar diante dela... Mas é loucura pensar que se pode vencê-la..." - Michel de Montaigne

Vivemos numa sociedade em que adiamos. Se antigamente éramos "o cadáver adiado que procria" (Fernando Pessoa), hoje somos uma felicidade adiada que produz. Adiamos a maturidade, a responsabilidade por nossas escolhas, projetamos nossa autonomia numa busca por um "líder" que nos salve de toda dor e sofrimento, de toda falta de sentido e toda ausência de significado e direção em nossas vidas. Vivemos no que eu gosto de compreender como a "patologia social da liderança", uma doença social contemporânea. Incapazes de dar sentido para a realidade que nos cerca, procuramos desesperadamente as asas de um "grande pai" ou "grande mãe", de uma grande idéia ou de uma grande pessoa que nos oriente, que nos traga a fugidia coesão para a nossa história pessoal, social, cultural. Adiamos nossa maturidade.


"Tudo é dor, e toda dor vem do desejo, de não sentirmos dor" - Renato Russo, Quando o sol bater na janela do seu quarto
Sidarta Gautama, o Buda, em sua leitura sobre o mundo, chega a oito grandes conclusões, o que os budistas denominam como "A Nobre Senda Óctupla". Dessas oito conclusões as duas primeiras nos interessam mais, por tratarem exclusivamente da lógica da Katábasis, parte central do treinamento da Jornada do Herói. Essas duas primeiras conclusões dizem:

1. A natureza da vida é dor.
2. Toda dor vem do desejo ignorante.

Nós sofremos enquanto vivemos, perdemos nossos avós, perdemos nossa inocência, a imagem de perfeição que temos de nossos pais, nossas certezas, nossas companhias do passado, nossos amores, alguns amigos, e isso faz parte da vida. A vida é passagem, e nessa passagem há morte, e essa morte é parte da vida e ignorarmos isso, desejar ignorantemente que a vida não passe, que alguma "felicidade absoluta" se estabeleça num fantasioso "para sempre" é o caminho mais rápido para a eterna frustração.

A morte, um ode à vida
Fênix, símbolo da vida que morre e renasce,
recria-se a partir de sua própria destruição
A vida passou, passa e passará enquanto tentamos criar castelos na areia e, através dessa compreensão, passamos não a ignorarmos a vida ou a termos uma perspectiva pessimista, mas a ter a real dimensão dos nossos castelos e a aproveitarmos profundamente cada segundo, enquanto ele acontece. Você deixaria de viver cada um dos momentos de maior felicidade da sua vida, só porque sabe que eles passariam? Ou, sabendo que eles passariam, você viveria cada um deles com a máxima intensidade possível?

Viver a Katábasis, viver a queda
A Katábasis, o mergulho nas trevas, significa o abrir-mo-nos para viver essa perda, o deixar passar tudo o que não é mais nosso, aquela carga extra de certezas velhas, de padrões de pensamentos antiquados, de crenças limitantes e desestimulantes que nos tragam para longe do que queremos ser, que nos atrasam. Viver a Katábasis é deixar passar, é dizer sim à morte, a essa morte do que já não somos, para que possamos nos tornar o que desejamos ser. A Katábasis é a dor libertadora de um profundo banho interno do qual saímos renovados, revitalizados.

A citação de Montaigne, com a qual iniciamos esse texto, só poderia ser bem fechada com uma outra citação, genial, do mesmo autor:

"Para começar a tirar da morte seu grande trunfo sobre nós, adotemos o caminho contrário ao usual; vamos privar a morte de sua estranheza, vamos frequentá-la, acostumarmo-nos a ela; não tenhamos nada senão ela em mente... Não sabemos onde a morte nos espera: então vamos por ela esperar em toda parte. Praticar a morte é praticar a liberdade. Um homem que aprendeu como morrer desaprendeu a ser escravo." - Michel de Montaigne

Morra e renasça na Jornada do Herói.

Texto por: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
Criador do treinamento A Jornada do Herói

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Educação Iniciática na Jornada do Herói: Construindo metas, criando significado



O vídeo no final desta postagem é uma pequena parte de um documentário maior. Ontem, assistindo ele, pensei muito sobre os diversos sentidos de que a vida se reveste ao longo de nossa longa trajetória no planeta. Longa para nós, dentro da nossa consciência pessoal da realidade. Curta para as histórias dos povos, mínima para as vida das placas tectônicas, ínfima para o planeta, menos que um piscar de olhos para o universo.



Nuvens em tijolos
Podemos até acreditar que sonhar é colocar as idéias, os pensamentos ou os atos nas nuvens, mas a vida se preenche diariamente de pequenos sentidos à medida em que atuamos em cima dessas nuvens. Enquanto cada caminhar nosso seja um materializar de nossas expectativas, de nossas percepções e projetos nossa vida possui algum sentido, como aquele rapaz que disse que não sabe sobre o sentido da vida, mas sabe sobre o sentido da frase que diz agora e do elo de sentido dessa frase com a anterior e com a próxima e aí temos uma noção de trajetória. Então a vida se torna suportável.

As coisas mais ridiculamente simples, que damos por feitas e resolvidas, não seriam feitas sem um ato da nossa vontade orientada para aquela finalidade. A barba não seria feita, o trabalho acumularia, o estudo atrasaria, o dia passaria em vão. Muito do que damos por resolvido desde já só está "resolvido" porque o esteve antes, em nossas mentes. Nós antevemos passo a passo a resolução de cada pequena etapa do nosso dia e, assim, organizamos o caos em cosmos (ordem) e criamos sentido para cada mínimo abotoar de camisa ou, para as mocinhas, a escolha da cor do batom.



Meios e metas
Talvez quase tudo na vida seja um meio para maiores metas. Pensar num sentido da vida talvez seja enveredar por um caminho que nos fará pensar diretamente sobre o que mais temos receio de pensar: a finitude, a morte. Engraçado como ao longo da vida abandonamos essa condição imprescindível que nos diferencia dos demais animais: a consciência da morte. Existem animais que possuem comportamentos geneticamente determinados em relação à velhice e à doença, mas eles não manifestam efetivamente uma consciência de sua própria finitude, apenas vivem naturalmente o dia enquanto dia, a fome enquanto fome, o sono, o calor e o frio enquanto dados da natureza, do presente, do agora.




O inevitável que evitamos
Pensarmos em um sentido para a vida implica pensarmos na finitude dela, pois somente podemos dar sentido - dar significado - a algo que já abarcamos por completo (mesmo que apenas em nossa imaginação). Dar um significado para a vida é pensá-la através da morte. O que de mim fica quando eu me vou? O que deixo para os que conviveram comigo ou até mesmo para a humanidade? Talvez por isso seja tão complicado darmos um sentido para a vida, porque planejamos cuidadosamente nossa trajetória mental afim de que ela passe o mais longe possível do curso natural da vida, que é a morte. Talvez dar um sentido para a vida na nossa sociedade contemporânea seja tão impossível quanto imprescindível, justamente porque nos apegamos a essa ilusão de permanência, essa ilusão da qual só aceitamos abrir mão em prol de uma ilusão mais sedutora, a meta.

A doce liberdade que nos traz responsabilidade
Se somos todos humanos, falíveis e defectíveis, podemos assumir nossa limitação infantil em resguardarmo-nos entre cosméticos e cirurgias, ou entre carros e ternos de forma mais consciente, mais orientada em relação às nossas metas maiores. Ou à meta maior, do maior sentido de que dotaremos nossas vidas. A grande magia do sentido da vida talvez seja justamente a liberdade que temos de dar a ela o sentido que melhor nos identifique. Por isso no treinamento da Jornada do Herói, a primeira etapa é uma determinação explícita de nossa meta primária ali, do que pretendemos efetuar com as ferramentas e os recursos apreendidos naquela pequena jornada, impulsionadora de outras maiores jornadas em nosso futuro.

O que não vale, nessa seríssima brincadeira toda, é viver escondido entre anacronismos, encolher nossos ombros, nossa vida, nosso potencial e significado em almofadados ambientes infantis, sejam eles o útero macio do nosso ego inflado, de ideologias religiosas, políticas ou alimentares, ou as mais diversas propagandas que prometem freiar o tempo ao nosso redor. A vida precisa de um significado e só há uma pessoa que pode dotar de significado a sua vida. Se estiver na dúvida passe num espelho e procure, esse indivíduo se esconde por lá.

Quem é o protagonista da sua biografia?

Texto de: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
Criador dos treinamentos A Jornada do Herói e A Arte da Guerra Oriental