Trabalhar com a Jornada do Herói é ter a fantástica possibilidade de observar, dia a dia, a maravilhosa potência dos conteúdos da mente e buscar criar - esforço e tarefa heróica - um fluxo criativo e orientado de ações com essas energias. Ações orientadas por uma meta bem estipulada. Para que as ações ocorram, para que os heróis da Jornada possam liberar a energia psíquica necessária para transformar em ato as decisões e planificações efetuados no início da Jornada, é preciso que façamos o mesmo caminho que todo herói em toda mitologia mundial fez: liberar o potencial da libido(energia psíquica) no inconsciente.
As águas retidas
Em várias tradições mitológicas ao longo da história da humanidade veremos a questão da retensão e liberação das "águas do mundo". Na Índia esse é o tema central da mitologia de Indra (o equivalente hindu do Zeus grego): O dragão-serpente Vritra rompe o fluxo natural da vida no universo ("Rita" é o nome desse fluxo que ele rompe) ao prender as "águas do mundo" e então Indra, a divindade do raio, do trovão e das tempestades, tem de abatê-lo com um raio para que o fluxo das águas seja liberado e restabelecido.
É preciso uma iluminação (raio) orientada da consciência (Indra) para que o fluxo poderoso da energia psíquica (águas primordiais) possa jorrar naturalmente e começar a recriar e restabelecer a nossa energia criativa e o nosso contato com a dinâmica natural do movimento da nossa psique. É a isso que as mitologias ao redor do mundo chamam de restabelecer a "Ordem do Mundo". Por isso Zeus faz o mesmo derrotando o dragão-serpente Tífon e, posteriormente, Apolo, um dos filhos de Zeus, faz o mesmo derrotando o dragão-serpente Píton, filho de Tífon. São gerações efetuando o mesmo gesto simbólico de salvaguardar seu poder de contenção e liberação das energias que passam pelo eixo do ser.
Quando Zeus mata Tífon - depois de ter seus tendões dos calcanhares arrancados por essa criatura e recosturados por seu filho Hermes - ele restabelece a nova ordem no mundo, onde ele se coloca como governante. Psiquicamente é a consciência adquirindo poder sobre a dimensão inconsciente e orientando sua iluminação e ação através do foco (raio).
Esse processo ocorre na Jornada do Herói de forma constante através de suas quatro etapas: Paideia, Katábasis, Anagnosis e Apoteosis.
Paidéia, a dúvida elementar
Na Paidéia, fase que chamamos também de "educação iniciática" aprendemos a olhar o mundo com novos olhos e a perceber os valores e crenças que são as fundações do nosso mundo e da representação de universo que fazemos. Lembrando que, de acordo com a programação neurolingüística, nós não reagimos ao mundo e sim à representação que temos desse mundo. A realidade, em si, não é acessível a nós nem a ninguém. Vemos o mundo através das nossas experiências nesse mundo, das nossas próprias crenças e valores, nos nossos filtros internos, da nossa cultura e da forma como fomos socializados para viver em sociedade. O fator mais importante da Paidéia, além de aprender as técnicas que serão necessárias ao longo da jornada nas demais fases, é que possamos começar a compreender que esse mundo em que vivemos foi criado por seres humanos que já não estão entre nós e que a nós cabe, hoje em dia, duvidar de forma saudável de que esse seja o melhor dos mundos possíveis. Através da dúvida surgirá a brecha para toda a criação a ser efetuada posteriormente.
É na brecha que a dúvida ria no solo das certezas cotidianas que plantaremos a semente do amanhã.
Uma das técnicas primárias da Paidéia e uma das mais importantes é justamente estabelecer, por escrito através de um caminho de perguntas bem detalhadas, a meta que temos para o curso ou para a nossa Jornada pessoal. É como definir o código genético da semente, a forma pela qual ela irá crescer.
Katabasis, penetrando nas fundações
Na Katábasis, fase que chamamos de "mergulho nas trevas", penetraremos nas fundações dessas crenças nossas e sociais, pessoais e culturais, laborais e lúdicas que formam a nossa concepção de mundo. Ali perceberemos a intenção positiva dos comportamentos que já não são mais compatíveis ou congruentes com a nossa vida atual. É natural que alguns comportamentos que funcionavam no passado não sejam mais funcionais no presente, mas ainda assim eles detêm uma certa intenção positiva, seja ela de "proteger", "salvaguardar", "manifestar suas emoções", "delimitar o seu espaço e os seus limites" e por aí vai. Na Katábasis, observando o que queremos usar para edificar nossa Jornada pessoal e o que podemos resumir à intenção positiva e descartar as cascas comportamentais que já não condizem com nossa idade, vida ou atmosfera, podemos começar a reintegrar e fortalecer as fundações desde abaixo.
Nesse mergulho nós revisitamos conteúdos internos nossos e reintegramos cada um deles, ou pelo menos suas intenções positivas ao que pretendemos para daqui por diante.
Anagnosis, o que vês ao nascer
Na Anagnosis, fase que também chamamos de "conhece-te a ti mesmo", usamos arquétipos e mitos gregos como filtros ou mentores para observar nossa Jornada, nossas metas, projetos e planos. Através desse filtro energético a mente do herói começa a reconectar-se à sua vida do cotidiano, mas de uma forma completamente nova, plena de energia e discernimento. O mergulho na Katábasis ampliou o gradiente energético, liberando a libido para que possamos usá-la em favor de nossas próprias demandas, mas de forma criativa e equilibrada. Trabalhamos especificamente a questão do equilíbrio dinâmico na execução de nossas técnicas nessa fase da Jornada. Equilíbrio dinâmico é a noção de que não precisamos estar estáticos ou imoveis dentro de um estado paradisíaco da mente, mas que na avalanche de atos e circunstâncias do dia a dia precisamos "dançar ao som da música" sem nunca perdermos a consciência de nosso eixo e de nosso foco.
Na Anagnosis a mente criativa enraíza-se para dentro do cotidiano, levando consigo de forma potencializadora, criativa e centrada a estrutura do dna criada na nossa meta estabelecida na Paidéia, na primeira etapa de nossa Jornada.
Apoteosis, encontro com os deuses
Na Apoteosis extravasamos nossas energias para o resto do mundo. A energia telúrica (da terra) que remexemos e "cozinhamos" na Katábasis e que nos impulsionou para a consciência de uma forma mais íntegra e coerente para renascermos na Anagnosis, onde usamos essa libido (essa energia psíquica) como uma tinta para tatuar os atos de nosso dia a dia como se deixássemos a cada passo um pouco de nós mesmos e reconstruíssemos o universo ao nosso redor não só à nossa imagem e semelhança, mas observando nos olhos dos que nos cercam tendo a consciência de que observamos os demais deuses responsáveis pela manutenção desse firmamento em que estamos. São técnicas que ampliam e excitam o que temos de criativo, potencializador, amoroso e tolerante em nós.
É essa a viagem da mente do Herói na Jornada, um mergulho profundo que antecede um salto quântico.
Texto por: Renato Kress
As águas retidas
Em várias tradições mitológicas ao longo da história da humanidade veremos a questão da retensão e liberação das "águas do mundo". Na Índia esse é o tema central da mitologia de Indra (o equivalente hindu do Zeus grego): O dragão-serpente Vritra rompe o fluxo natural da vida no universo ("Rita" é o nome desse fluxo que ele rompe) ao prender as "águas do mundo" e então Indra, a divindade do raio, do trovão e das tempestades, tem de abatê-lo com um raio para que o fluxo das águas seja liberado e restabelecido.
É preciso uma iluminação (raio) orientada da consciência (Indra) para que o fluxo poderoso da energia psíquica (águas primordiais) possa jorrar naturalmente e começar a recriar e restabelecer a nossa energia criativa e o nosso contato com a dinâmica natural do movimento da nossa psique. É a isso que as mitologias ao redor do mundo chamam de restabelecer a "Ordem do Mundo". Por isso Zeus faz o mesmo derrotando o dragão-serpente Tífon e, posteriormente, Apolo, um dos filhos de Zeus, faz o mesmo derrotando o dragão-serpente Píton, filho de Tífon. São gerações efetuando o mesmo gesto simbólico de salvaguardar seu poder de contenção e liberação das energias que passam pelo eixo do ser.
Quando Zeus mata Tífon - depois de ter seus tendões dos calcanhares arrancados por essa criatura e recosturados por seu filho Hermes - ele restabelece a nova ordem no mundo, onde ele se coloca como governante. Psiquicamente é a consciência adquirindo poder sobre a dimensão inconsciente e orientando sua iluminação e ação através do foco (raio).
Esse processo ocorre na Jornada do Herói de forma constante através de suas quatro etapas: Paideia, Katábasis, Anagnosis e Apoteosis.
Paidéia, a dúvida elementar
Na Paidéia, fase que chamamos também de "educação iniciática" aprendemos a olhar o mundo com novos olhos e a perceber os valores e crenças que são as fundações do nosso mundo e da representação de universo que fazemos. Lembrando que, de acordo com a programação neurolingüística, nós não reagimos ao mundo e sim à representação que temos desse mundo. A realidade, em si, não é acessível a nós nem a ninguém. Vemos o mundo através das nossas experiências nesse mundo, das nossas próprias crenças e valores, nos nossos filtros internos, da nossa cultura e da forma como fomos socializados para viver em sociedade. O fator mais importante da Paidéia, além de aprender as técnicas que serão necessárias ao longo da jornada nas demais fases, é que possamos começar a compreender que esse mundo em que vivemos foi criado por seres humanos que já não estão entre nós e que a nós cabe, hoje em dia, duvidar de forma saudável de que esse seja o melhor dos mundos possíveis. Através da dúvida surgirá a brecha para toda a criação a ser efetuada posteriormente.
É na brecha que a dúvida ria no solo das certezas cotidianas que plantaremos a semente do amanhã.
Uma das técnicas primárias da Paidéia e uma das mais importantes é justamente estabelecer, por escrito através de um caminho de perguntas bem detalhadas, a meta que temos para o curso ou para a nossa Jornada pessoal. É como definir o código genético da semente, a forma pela qual ela irá crescer.
Katabasis, penetrando nas fundações
Na Katábasis, fase que chamamos de "mergulho nas trevas", penetraremos nas fundações dessas crenças nossas e sociais, pessoais e culturais, laborais e lúdicas que formam a nossa concepção de mundo. Ali perceberemos a intenção positiva dos comportamentos que já não são mais compatíveis ou congruentes com a nossa vida atual. É natural que alguns comportamentos que funcionavam no passado não sejam mais funcionais no presente, mas ainda assim eles detêm uma certa intenção positiva, seja ela de "proteger", "salvaguardar", "manifestar suas emoções", "delimitar o seu espaço e os seus limites" e por aí vai. Na Katábasis, observando o que queremos usar para edificar nossa Jornada pessoal e o que podemos resumir à intenção positiva e descartar as cascas comportamentais que já não condizem com nossa idade, vida ou atmosfera, podemos começar a reintegrar e fortalecer as fundações desde abaixo.
Nesse mergulho nós revisitamos conteúdos internos nossos e reintegramos cada um deles, ou pelo menos suas intenções positivas ao que pretendemos para daqui por diante.
Anagnosis, o que vês ao nascer
Na Anagnosis, fase que também chamamos de "conhece-te a ti mesmo", usamos arquétipos e mitos gregos como filtros ou mentores para observar nossa Jornada, nossas metas, projetos e planos. Através desse filtro energético a mente do herói começa a reconectar-se à sua vida do cotidiano, mas de uma forma completamente nova, plena de energia e discernimento. O mergulho na Katábasis ampliou o gradiente energético, liberando a libido para que possamos usá-la em favor de nossas próprias demandas, mas de forma criativa e equilibrada. Trabalhamos especificamente a questão do equilíbrio dinâmico na execução de nossas técnicas nessa fase da Jornada. Equilíbrio dinâmico é a noção de que não precisamos estar estáticos ou imoveis dentro de um estado paradisíaco da mente, mas que na avalanche de atos e circunstâncias do dia a dia precisamos "dançar ao som da música" sem nunca perdermos a consciência de nosso eixo e de nosso foco.
Na Anagnosis a mente criativa enraíza-se para dentro do cotidiano, levando consigo de forma potencializadora, criativa e centrada a estrutura do dna criada na nossa meta estabelecida na Paidéia, na primeira etapa de nossa Jornada.
Apoteosis, encontro com os deuses
Na Apoteosis extravasamos nossas energias para o resto do mundo. A energia telúrica (da terra) que remexemos e "cozinhamos" na Katábasis e que nos impulsionou para a consciência de uma forma mais íntegra e coerente para renascermos na Anagnosis, onde usamos essa libido (essa energia psíquica) como uma tinta para tatuar os atos de nosso dia a dia como se deixássemos a cada passo um pouco de nós mesmos e reconstruíssemos o universo ao nosso redor não só à nossa imagem e semelhança, mas observando nos olhos dos que nos cercam tendo a consciência de que observamos os demais deuses responsáveis pela manutenção desse firmamento em que estamos. São técnicas que ampliam e excitam o que temos de criativo, potencializador, amoroso e tolerante em nós.
É essa a viagem da mente do Herói na Jornada, um mergulho profundo que antecede um salto quântico.
Texto por: Renato Kress
Boa noite! Muito interessante a leitura, mas não tenho conhecimento avançado nesta área. Adoro mitologia, psicologia, sociologia e outras logias... Já li alguns textos seus, mas não consigo fechar o raciocínio, diante de tantas informações e nomes. Gostaría de uma indicação sua. Por onde começar?? Aguardo.
ResponderExcluirClaro que sim! Pode começar lendo (ou vendo o documentário) "O Poder do Mito" com Joseph Campbell. É um ótimo ponto de partida. Outro ponto possível é a leitura do clássico "O Homem e seus símbolos" do psicólogo suíço Carl Gustav Jung. Todos esses livros são tranquilos de ler e muito gostosos também, principalmente porque são ricamente bem ilustrados. Depois me diz o que você achou! Beijos.
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