terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Serendipity: Pronto e disperso


Esse ano se eu pudesse escolher uma palavra para todos os clientes, amigos e familiares, seria “Serendipity”. Serendipity é um termo inglês criado por uma corruptela lingüística da palavra “Sarandwypha”, que é o antigo nome da ilha do Ceilão (antigo Sri Lanka). É um tipo de Jornada heróica em que a aventura começa justamente quando o protagonista está simultaneamente “pronto e disperso”, só então, num momento de insana lucidez, ele percebe todo um novo mundo que sempre esteve ali...
Ciência e literatura
O termo "Serendipity" (ou em português "serendipidade") foi cunhado pelo escritor Britânico Horace Walpole a partir do conto "Os três Príncipes de Serendip". Nessa história os três príncipes viviam fazendo descobertas ao acaso, levados principalmente por suas mentes abertas ao inesperado.

Na história da ciência, muitos foram os casos de "Serendipity": A descoberta da Penicilina por Alexandre Fleming, Arquimedes com os fundamentos da hidrostática, Tales de Mileto na descoberta do elétron e muitos outros.

Mitos e Jornadas
Em mitologia são várias as histórias em que um herói sai à caça de um animal com alguma característica especial, como um pássaro com chifres, um javali branco, um leão anormalmente grande etc, ou mesmo corre a mata atrás de uma erva mágica ou artefato específico e, subitamente, vê-se num novo mundo, um espaço totalmente desconhecido onde, a partir de então, sua tarefa será desbravar esse novo mundo ou tentar regressar para o mundo conhecido.

Essas jornadas, em geral, têm uma característica centrífuga no início e centrípeta no fim. O herói fasta-se de um centro ordenador, de uma ordem estabelecida, rumo a um novo centro, seja ele criado ou o mais comum,  descoberto por acaso num momento em que o herói "pronto" - treinado, hábil - está distraído. Como quando  depois de uma longa batalha o grande guerreiro, exausto, limpa o rosto num rio e, distraidamente, vislumbra nas águas turvas as luzes translúcidas de uma cidade submersa.

Olhares
Quando olhamos o mundo com novos olhos, tudo parece novo, assustadoramente mágico e diferente. A novidade pode ser excitante ou pavorosa, ou simultaneamente sedutora e mortal. Sair do espaço conhecido, sair do centro delimitado de nossa cultura, das nossas convenções e percepções é uma tarefa heróica, é empreender uma jornada. A diferença entre a Jornada clássica e a Serendipity é que nessa última tudo parece ocorrer como que "por acaso", por "obra do destino". Mas apenas parece.

Prepare-se! Relaxe... Olhe!
Para viver uma Serendipity é necessário estar preparado, tornar-se hábil e exercitar a percepção. Ver além do que está implícito é um exercício conhecido como "olhar antropológico", o olhar que não toma por "natural" quase nada, que observa os jogos e as dinâmicas psíquicas, sociais, sexuais, familiares e culturais por trás do mais simples gesto. Um olhar que procura a fonte do gesto e se pergunta se não é possível satisfazer os desejos implícitos naquela fonte de outra maneira, por outras vias, formas, idéias. É um olhar que cria e recria o mundo, um olhar que inova e transcende aquilo que está posto. O olhar que desejo a todos.

Desejo aos meus clientes, heróis, amigos e colaboradores do Instituto ATENA, um ano de descobertas sensacionais, de prontidão dispersa, de alegria de viver e de criatividade no olhar. Que todo um novo mundo desabroche diante dos teus olhos maravilhados e traga com ele o elo entre o melhor de si e o melhor a fazer.

Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA