Você já se interessou por budismo, kung-fu, yoga ou meditação zen? Já quis ler "A Arte da Guerra" de Sun Tzu ou o "Tao de Ching" de Lao Tsé? Cada vez mais entramos em contato com tradições alheias à nossa raiz ocidental, talvez por um desgaste de nossas interpretações sobre nós mesmos, talvez por uma necessidade de complementaridade simbólica entre ocidente e oriente, às vezes por uma fuga da atmosfera competitiva, agressiva, pró-ativa de nossa cultura contemporânea. Seja qual for o motivo de nosso interesse nas culturas de nossos irmãos do outro lado, em geral tendemos a querer enxergar neles uma pureza ou uma ancestralidade que não é real.
Novas Perspectivas
Quando nosso dia a dia nos leva a querer meditar, fazer yoga, aprender técnicas de controle respiratório para um melhor circulação do "prana" ou ampliar a percepção do nosso "ki ou chi" através de artes marciais percebemos que estamos indo em direção a um caminho já traçado anteriormente e nos interessamos por outras culturas, outras concepções de um mundo visto por outros olhos.
Fascínio
Em especial fascinam a nós, ocidentais, as derivadas do extremo oriente - Índia, China e Japão - e então temos a impressão de estarmos falando de "tradições espirituais" ou "conhecimentos milenares" de uma forma mais "pura", como se elas nos chegassem diretamente, sem as intervenções e modificações que fazem a nós, ocidentais, perdermos algum contato com o que chamaríamos de "raizes".
Novas Perspectivas
Quando nosso dia a dia nos leva a querer meditar, fazer yoga, aprender técnicas de controle respiratório para um melhor circulação do "prana" ou ampliar a percepção do nosso "ki ou chi" através de artes marciais percebemos que estamos indo em direção a um caminho já traçado anteriormente e nos interessamos por outras culturas, outras concepções de um mundo visto por outros olhos.
Fascínio
Em especial fascinam a nós, ocidentais, as derivadas do extremo oriente - Índia, China e Japão - e então temos a impressão de estarmos falando de "tradições espirituais" ou "conhecimentos milenares" de uma forma mais "pura", como se elas nos chegassem diretamente, sem as intervenções e modificações que fazem a nós, ocidentais, perdermos algum contato com o que chamaríamos de "raizes".
Cada vez mais nos voltamos para a leitura de obras como o "Mahabharata", a epopéia indu da batalha pelo controle do mundo, ou "O livro dos cinco anéis" do mestre espadachim japonês Miyamoto Musashi, "A arte da Guerra" do General chinês Sun Tzu, o "Tao te Ching" do filósofo chinês Lao Tsé ou os aformismos de outro filósofo chinês, Kung-fu-tsé (Confúcio). Até aí tudo bem, na verdade tudo ótimo! Ampliar nossa leitura da realidade é o que efetivamente nos faz desenvolver formas alternativas de ver e reagir ao mundo, nos torna mais criativos e surpreendentes, seja na vida pessoal ou no trabalho. O problema está em procurarmos viver caminhos que não são os nossos ao invés de integrar sabedorias milenares em nosso contexto contemporâneo.
O problema da pureza
Buda (o símbolo no peito é indu) |
Ao buscarmos tradições oriundas do oriente é comum esquecermos que elas também se interligam, interpenetram e confluem. Mais comum ainda é nos esquecermos de que é justamente essa interligação e confluência que caracteriza a obra dos grandes mestres aos quais recorremos. Por exemplo, no introdução do livro dos cinco anéis Miyamoto Musashi escreve: "...Escalei a montanha Iwwato Higo, em Kyushu, para homenagear o céu, rezar para Kwannon e ajoelhar-me diante de Buda." Só nessa frase, no primeiro parágrafo de sua obra, já especifica interferências de três leituras religiosas distintas!
1) "...homenagear ao céu..." - Homenagear ao céu significa homenagear a "Ten", divindade oriunda do Xintoísmo. Xinto -uma palavra composta pelos ideogramas "Kami" (Deus) e "Michi" (caminho) - é a antiga religião do Japão.
2) "...rezar para Kwannon..." - Kwannon é a deusa da misericórdia numa leitura japonesa do budismo, recheada de santos.
Kwannon (lembra alguém?) |
2) "...rezar para Kwannon..." - Kwannon é a deusa da misericórdia numa leitura japonesa do budismo, recheada de santos.
3) "...ajoelhar-me diante de Buda..." - Essa passagem já fala claramente do Budismo japonês, mais reverente à figura do Buda que o indiano, que compreende "o Buda dentro de cada um de nós".
Musashi é um grande mestre da espada e da estratégia e tinha plena consciência de que as diversas tradições espirituais ou filosóficas com as quais entrou em contato ao longo de sua vida nada mais eram do que ferramentas para que ele criasse o próprio caminho. Ele só pôde ser Musashi porque não se preocupou em ser Kwannon, Buda ou Kami. Ele é um mestre porque cria o próprio caminho e porque o vive com intensidade e honra. Se não sempre uma honra socialmente viável, ao menos uma honra interna, uma fidelidade a si mesmo.
Treinamentos culturais
Quando estudamos tradições da Índia, China e Japão dentro do curso A Arte da Guerra Oriental no Instituto ATENA estudamos com a perspectiva de criarmos nosso próprio caminho, de executar nossa jornada pessoal para que possamos buscar bases instrumentais num universo diverso do nosso. Só assim poderemos criar e obter resultados mais criativos, inovadores e eficientes. Do contrário ficaríamos presos seja nos nossos referenciais ocidentais, seja na busca por uma "essência" oriental e não deixaríamos a "energia fluir" entre esses dois pólos, como nos ensina, por exemplo, tanto o Taoísmo chinês, quanto o Phrana e a teoria do atman indianos.
Mac Iluminação
Nós ocidentais estamos, em geral, muito mal acostumados com a idéia do "ready-made" do "fast-food" e, em geral, o que nos ensinam os grandes mananciais nos quais vamos beber quando nossa sede de saber não é alimentada por nossos "pocket-books" existenciais, é que todos os caminhos estão prontos, menos o nosso. O caminho de Sun Tzu na China quinhentos anos antes de Cristo ou o de Maquiavel na Itália em 1500 depois de Cristo são caminhos que foram interessantes e úteis a seus autores (menos para o italiano que morreu pobre e sem fama do que para o venerado e rico general chinês) em suas épocas. Cabe a nós observarmos o que podemos apreender desses caminhos para a nossa vida e para o nosso contexto. O uso que se fez no ocidente do símbolo no peito da estátua de buda na figura acima, por exemplo, foi um uso de responsabilidade da mente ocidental, mas podemos fazer coisas maravilhosas e transcedentais também em nossas vidas, afinal sobre oriente e ocidente não cabem adjetivos como "melhor", "pior", "bom" ou "ruim", apenas "diferente" e, nesse caráter, enriquecedor. Só assim, operacionalizando nosso crescimento através da compreensão de perspectivas novas poderemos empreender a jornada que nenhum grande mestre de nenhum tempo pode fazer por nós.
Nós ocidentais estamos, em geral, muito mal acostumados com a idéia do "ready-made" do "fast-food" e, em geral, o que nos ensinam os grandes mananciais nos quais vamos beber quando nossa sede de saber não é alimentada por nossos "pocket-books" existenciais, é que todos os caminhos estão prontos, menos o nosso. O caminho de Sun Tzu na China quinhentos anos antes de Cristo ou o de Maquiavel na Itália em 1500 depois de Cristo são caminhos que foram interessantes e úteis a seus autores (menos para o italiano que morreu pobre e sem fama do que para o venerado e rico general chinês) em suas épocas. Cabe a nós observarmos o que podemos apreender desses caminhos para a nossa vida e para o nosso contexto. O uso que se fez no ocidente do símbolo no peito da estátua de buda na figura acima, por exemplo, foi um uso de responsabilidade da mente ocidental, mas podemos fazer coisas maravilhosas e transcedentais também em nossas vidas, afinal sobre oriente e ocidente não cabem adjetivos como "melhor", "pior", "bom" ou "ruim", apenas "diferente" e, nesse caráter, enriquecedor. Só assim, operacionalizando nosso crescimento através da compreensão de perspectivas novas poderemos empreender a jornada que nenhum grande mestre de nenhum tempo pode fazer por nós.
Oriente Ocidente
A raiz dos termos "Oriente" e "Ocidente" tem a ver com o movimento do sol, nascimento e morte do dia. De fato "oriente" vem da mesma raiz que a palavra "origem", e "ocidente" vem de "ocidere" a palavra latina para "morrer". Podemos sempre deixar que nossas idéias, nossos projetos e trabalhos se banhem e nasçam em outras terras, mas não podemos deixar de observar que elas devem "morrer", encontrar seu fim, seu término, aqui, no nosso solo, no nosso contexto, na nossa vida cotidiana. Isso é criar o próprio caminho.
Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
Diretor do Instituto ATENA