segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Jornada do Herói®, uma viagem arquetípica

"A alma é como um viajante, que atravessa terras distantes, conhece pessoas e lugares, alimenta-se e cresce com inúmeras vivências, mas, apesar de ser influenciada por tudo isso, tem natureza própria" - Carlos Amadeu Botelho Byington, in O Simbolismo nas culturas indígenas brasileiras

Gênese de uma Jornada
Cada nova Jornada, cada nova turma é um novo universo. Há uma nova língua a ser gerada, no interior das nossas relações, um novo campo que se forma quando fechamos a porta da sala e, para além dos acontecimentos externos, estamos ali, reunidos, no olho do furacão. Estar no olho do furacão é estar na calmaria, no silêncio que precede a tempestade do mundo exterior. É disso que se trata um treinamento: Um laboratório para experiências, um campo de testes, uma antecipação coordenada do desafio da vida.

Sem preparação, treino e disciplina seria impossível, para qualquer atleta, ator, cientista, empresário ou escritor, alcançar seus resultados surpreendentes. Mas é preciso que essa preparação e treino sejam bem embasados e conduzidos por uma linha mestra bem planejada. Ainda que as partes mais densas da Jornada só possam ser efetuadas pessoal e intransferivelmente por cada herói, precisamos de alguém experiente segurando a outra ponta do fio de Ariadne, no final do labirinto.

É preciso conhecer os mitos
O trabalho e as vivências através da Jornada do Herói® ocorrem baseados em muitos campos do conhecimento. O primeiro e mais básico deles é o conhecimento mítico. É preciso efetivamente conhecer as histórias das narrativas heróicas, saber recontá-las e revivê-las, enquanto as recontamos. Só assim poderemos compreender a essência da Jornada, que é essa re-escrita, essa reestruturação e reconstrução da narrativa da vida de cada um de nós. 

Os mitos são padrões a serem conhecidos, são mapas para a Jornada, mas que só podem servir como tais se vistos sobrepostos, se colocarmos um mito asteca sobre um mito grego e um yanomami, todos sobre um mito japonês, aí então teremos um padrão relevante para trabalharmos em nossa mente. O que se repete no mito é o que se repete na mente. A intimidade entre o mito e a estrutura da mente humana foi ressaltada tanto por Sigmund Freud como por seu discípulo e sucessor, Carl Gustav Jung.

A Jornada na mente
O trabalho na Jornada é feito através de símbolos. Simplesmente porque quando nossa psique quer nos dar uma informação nova, quando ela nos presenteia (em sonhos ou despertos) com algum "ouro" escavado pelas nossas sinapses em trabalho constante ao longo de nossas vidas, a mensagem sempre vem na forma de um símbolo. O inconsciente fala por símbolos, por imagens, por metáforas. Nossos sonhos, por exemplo, não são "racionais" no sentido estrito do termo, mas simbólicos. Precisam ser "traduzidos" por nossa mente racional e consciente, posteriormente.

Os símbolos variam enormemente, podendo estar ligados a situações durante a vida ou além dela, e podem incluir componentes sexuais, estéticos ou de poder, mas seus arquétipos (seus "tipos primitivos" ou "tipos básicos") estão enraizados na dimensão psíquica. O mito fascina porque desvela o que há de mais íntimo em nossas mentes.

O trabalho de tradução do mito para a estrutura da mente se dá pela análise das estruturas arquetípicas, do que chamamos comumente de "arquétipos". Arquétipos são matrizes organizadoras de símbolos, correspondem, por exemplo, ao que encontramos quando cruzamos vários mitos de várias partes do mundo. A evolução do córtex do ser humano levou-o à possibilidade de abstrair muito, e isso aumentou a complexidade da ação humana. Os arquétipos são formas de conhecermos as bases dessa complexidade. Tudo o que existe pode ser percebido à luz do nosso sistema arquetípico ou simbólico, quer estejamos conscientes ou não. 

As narrativas heróicas de cada um
As coisas se tornam simbólicas para o ser humano quando são incorporadas ao processo de desenvolvimento de sua dimensão psíquica. Ou seja, tornamos simbólicas as experiências que dão sentido à nossa existência. O que dá sentido à nossa existência se incorpora em nossas mentes na forma de crenças e valores que vão moldando o desenvolvimento de nossa identidade. 

Revisitar nossas crenças e valores é que é o verdadeiro destino da Jornada do Herói
®. Através desse mergulho é que poderemos efetuar o cerne desse treinamento que é alinhar nossas metas contemporâneas - o que queremos hoje, em nossas vidas - com nossos valores. Isso é um ponto chave para a Jornada porque o ser humano precisa dotar de sentido o universo ao seu redor e, mesmo que uma meta seja racionalmente estipulada e intelectualmente calculada para "dar certo" se ela não for congruente com seus valores e suas crenças, com aquilo que constrói sua identidade, você se sabotará. Mesmo e principalmente sem perceber. A forma mais simples e mais poderosa de auto-sabotagem é essa: ter metas incongruentes com seus valores.

Precisamos de sentido, precisamos dar significado
Mas como alinhar o que se quer com quem se é? Nesse ponto é que a Jornada se torna uma estrutura narrativa, ou seja, um processo linear de começo, meio e fim onde um ponto necessariamente está em consonância com os pontos que o precedem. É preciso criar uma história de si mesmo e, para isso, não precisamos ser grandes autores, apenas ter em mente o que Aquiles tinha quando escolheu ir combater em Tróia, mesmo sabendo que um oráculo previa sua morte: que a vida não é infinita e que seremos lembrados pelo que efetivamente fizemos. É preciso reconectar-se com o corpo, com a matéria e com a finitude e impregnar elas com o sentido da nossa alma. Só assim criaremos as melhores narrativas de nós mesmos, nossas próprias e honrosas jornadas.

Consciência do processo
Típica imagem alquímica de um Uroboros
Para ser o condutor de uma Jornada do Herói® e trabalhar com várias faixas etárias é preciso conhecer as cinco fases arquetípicas pelas quais os heróis podem estar passando: a fase urobórica, a fase puer, a fase matriarcal, a fase patriarcal e a fase sênex.

Na primeira fase, a urobórica, ou nem nascemos ou acabamos de nascer, e ainda temos uma passividade completa da consciência, que só existe de forma latente e ainda está começando a se afastar da consciência materna.

No padrão matriarcal o Ego adquire capacidade de relacionamento binário, seccionando o mundo entre pólos opostos com pouca integração e muita disputa, é onde está a mídia contemporânea e onde se localiza a maior parte dos discursos políticos: culpando o outro (que é sempre visto como inimigo e como inferior) e se mostrando como super-humanos infalíveis. Esse padrão tem forte tendência a gerar uma psique recheada de idealizações onde todos são maravilhosos ou péssimos e ninguém é essencialmente humano.

Na fase patriarcal o Ego adquire capacidade de relacionamento ternário pois já é capaz de manter a identidade íntegra enquanto se relaciona com outras polaridades a partir de uma terceira posição. Seus posicionamentos tendem a ser, no entanto, rígidos. É através do arquétipo da alteridade que o Ego atinge a autonomia com flexibilidade suficiente para manter uma posição discriminada e não autocentrada.

Na fase sênex (velho sábio, ou velho louco) a mente procura profundidade e estabilidade, deixando que o Ego lentamente se apequene e procurando tomar conhecimento dos demais pontos de vista envolvidos num mesma situação ou mesmo deixar de influir diretamente sobre ela, o que pode ser considerado uma atitude sábia ou insana, senil.

Estruturar o eixo, estruturar o centro
Muitas dessas fases ocorrem na mente do Herói dentro da jornada e é necessário que o condutor as saiba identificar e trabalhar ao longo do processo do treinamento. É necessário, principalmente, que o condutor esteja atento às possibilidades de integração das polaridades que se formem ao longo do processo, afinal, a Jornada é um percurso biográfico que visa ao desenvolvimento de um self (centro doador de sentido para o mundo) integrado.

Toda mitologia tem um "centro do mundo", um oráculo de Delfos, uma Ygdrassil (Árvore da vida na mitologia Celta), uma Caaba, um Monte das Oliveiras, um Monte Fuji ou um Monte Meru. Todo rei tem uma coroa que liga o céu à terra, a mente ao corpo, o espírito à matéria, assim como um cetro, uma espécie de coluna ou viga que sustenta toda a construção ao redor daquele rei, aquilo que estrutura seu reinado. Isso é o que o psicólogo suíço Carl G. Jung chamou de "Self".

Existem momentos em que toda a dissertação do mundo não vale uma boa história, então vamos a ela:

Parsifal e o Graal (versão)
Parsifal, filho de um dos cavaleiros da Távola Redonda do famoso Rei Arthur, foi criado isolado de tudo e de todos por sua mãe super-protetora. Depois de alguma insistência do menino conseguiu de sua mãe a permissão para ir conhecer o mundo, desde que o fizesse com roupa de bufão (bobo da corte). A mãe esperava que assim ele fosse ridicularizado e voltasse imediatamente para junto dela. Mas não foi assim que tudo ocorreu. Parsifal encontrou o castelo de um nobre chamado Gurnemanz que o instruiu na arte da cavalaria - e trocou suas roupas ridículas - antes que ele recomeçasse sua peregrinação. 

A rainha Isabel e seu cetro
Chegando a uma terra distante onde os campos eram desertos e estéreis, Parsifal encontrou um castelo em ruínas, e, dentro dele, um rei moribundo, que se debatia na cama em grande aflição. Parsifal caminhou diretamente ao rei e lhe fez duas perguntas. "Senhor, o que vos aflige?", ao que o Rei contou-lhe sua história, dizendo ser o "Rei do Graal" e que havia contraído uma estranha doença após uma ferida na virilha durante uma caçada. Após a explanação do Rei, Parsifal olhou-o profunda e pausadamente nos olhos e perguntou "Senhor, a quem serve o Graal?". Ao ouvir essa pergunta o Rei se colocou de pé, colocou a coroa em sua cabeça, caminhou até seu trono, apossou-se do Graal e, com ele, bteu seu cetro no chão, fazendo as muralhas do castelo se reconstruírem e os campos florescerem e frutificarem.

Às vezes, tudo o que precisamos, é saber a quem serve as nossas atitudes e posicionamentos. Às vezes, tudo o que precisamos, é lembrar onde está o centro.

Artigo por Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
Criador do treinamento registrado "A Jornada do Herói
®"

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Superioridade e Honra: Caminhos, descaminhos, estratégia e valores


"Existem vários caminhos. Há o Caminho da Salvação pela Lei do Buda, o Caminho de Confúcio que governa o Caminho do Aprendizado, o Caminho da cura como médico, como poeta ensinando o caminho de Waka¹, chá², arco e flecha³ e muitas outras artes e escolas. Cada homem pratica de acordo com sua inclinação." - Miyamoto Musashi, Livro da Terra, in: Livro dos Cinco Anéis (ou Livro das Cinco Esferas)

Para Musashi o caminho do Guerreiro é o caminho que leva à aceitação resoluta da morte. A morte, para uma cultura taoísta como a de Musashi, é a aceitação da eterna impermanência. Impermanência de nossos corpos, que envelhecem desde o dia em que nasceram, de nossas situações cotidianas que se transmutarão em outras, de nossa compreensão de nós mesmos e do universo que nos cerca. Para quem saiba ler o Livro das Cinco Esferas, tornar-se um guerreiro, ou melhor, assumir o caminho do guerreiro, é aceitar a mudança que se espera de toda ordem constituída. A vida é passagem e quem se perder nas margens do rio da vida na busca pela eterna infância, juventude ou mesmo eterna velhice, não pode assumir esse caminho, viver esse fluxo.

O Caminho da Estratégia

Os praticantes do caminho do guerreiro são conhecidos como "mestres da estratégia". A aceitação resoluta da morte, num contexto estratégico, nada mais é do que um bom exercício do que no ocidente denominamos "trade-off", abrir mão de algo (deixar algo morrer) para obter algo de maior valor para nossas vidas. Quando uso o termo "Valor" quero dizer "significado" e não explicitamente "dinheiro", "posição" ou "poder", a não ser que "dinheiro", "posição" e "poder" sejam seus valores primários. Valor é tudo aquilo que traz maior significado à sua vida.

"Recentemente têm surgido no mundo pessoas chamadas de estrategistas, mas no fundo não passam de esgrimistas." - Myiamoto Musashi

Vivemos num universo onde a mídia cerca e explode em multicores quando um envolvido em uma disputa comercial, industrial, política ou financeira atinge uma vitória. Tendemos a atribuir ao sujeito da vitória, ao vitorioso, títulos de estrategista, de grande guerreiro e de líder etc. Podemos até acreditar que livros como "A Arte da Guerra" de Sun Tzu estejam ultrapassados, que seus critérios de "vencer sem guerrear", "vencer o inimigo por cansaço" antes mesmo de entrar em batalha, "cooptar as mentes dos soldados do inimigo antes de enfrentá-los" etc estejam ultrapassados, afinal, o que as grandes revistas de negócios, os grandes livros e os grandes gurus nos apresentam é um mundo de grandes líderes em disputa acirrada, clara e aberta uns contra outros. Mas será que essas revistas não têm nenhum interesse? Será que elas não são patrocinadas por nenhum interesse? Quem paga a moda da ultracompetitividade? E paga com recursos infindáveis, ou com recursos finitos? E se esses recursos são finitos, porque se investe nisso?

Essência e aparência

O mundo da mídia pode se esgoelar para vender a cada um de nós a idéia de que a competição acirrada, a hipercompetitividade a qualquer custo é o caminho do "líder", do "guerreiro", do "estrategista", mas ele não pode negar o fato de que a Google, por exemplo, tem 4 décadas a menos do que a TimeWarner e tem o lucro líquido quase duas vezes maior. A diferença? A TimeWarner é a maior difusora da ideologia da hipercompetitividade no mundo e a Google não vende, mas efetivamente vive a ideologia da hipercolaborativiadade, dentro e fora da empresa. A quem interessa que nós permaneçamos sempre competindo, nos exaurindo, nos cansando, dispersando energia e recursos?

A aparência da hipercompetitividade não encobre a essência de que quem está na frente não compete, cria! Só me interessaria que meus "concorrentes" competissem se eu vivesse no eterno medo, no pânico completo de que, uma vez deixados em paz, eles pudessem "crescer" e "me passar". Essa é a ênfase normal na mente de um covarde, não de um guerreiro. A mídia corporativa, tal qual a mídia social, incentiva a covardia pela incitação do medo. Só quem é muito inseguro acerca das próprias potencialidades, das próprias habilidades e do próprio conhecimento consegue viver nessa lógica. Não é o caso de um guerreiro como exposto por Musashi.

A venda e os critérios para a compra


"Se observarmos o mundo, veremos artes à venda. Os homens usam equipamentos para vender a si próprios. É como se a noz valesse menos que a flor. Nesse tipo de 'Caminho da Estratégia', tanto aqueles que ensinam quanto aqueles que aprendem o caminho ocupam-se de exibir a técnica, tentando apressar o desabrochar da flor. Falam 'deste Dojo' e 'daquele Dojo'. Estão à cata de lucros. Alguém afirmou uma vez: 'A Estratégia Imatura é a causa do sofrimento'. É verdade." - Miyamoto Musashi

Impressionante como parece que Musashi viveu nesse mundo, não? É natural aos que captam a essência do ser humano. Por isso determinadas leituras se tornam clássicos, porque seus autores captaram algo de próprio da natureza humana. A palavra "Dojo", significa "escola". E não vivemos hoje uma difusão de escolas e métodos de liderança, estratégia etc? E só há uma maneira eficiente de verificar a validade dessas escolas e métodos: aproximarmo-nos delas cautelosamente nós mesmos (pouquíssimo e raramente pela mídia, ela é paga para agir e age segundo quem paga) e observarmos o que seus representantes escrevem diretamente, o que falam e o que fazem, observar-lhes a coerência interna e, principalmente, se seus valores e crenças condizem com os nossos valores e crenças.

Uma das maiores compreensões para o ser humano, talvez o grande discurso desse milênio, é a aceitação da diferença. Aceitar que a diferença existe e que não somos todos iguais é compreender, entre outras coisas, que há espaço para a diferença e que a "técnica" que funciona para o meu vizinho ou para o meu colega pode não ser a mesma que funciona para mim. É o ensinamento básico par qualquer iniciante em Programação Neurolingüística (pnl): "O mapa não é o territorio", ou seja: minha representação da realidade não é  realidade, sim uma representação. Outras pessoas terão outras representações que não são melhores nem piores que a minha, apenas diferentes e, nessa diferença, possuem um grande potencial de enriquecer o nosso mapa.

Toda conduta humana está alicerçada em valores. Ora, uma técnica de liderança, uma "escola" de estratégia empresarial treina e às vezes até impõe uma determinada conduta. É necessário observar bem esses valores, para termos certeza se eles efetivamente são congruentes com os nossos ou não. Do contrário incorreremos em adotar uma postura esquizofrênica em nossas vidas e, mais cedo ou mais tarde, isso desembocará num desequilíbrio físico ou mental.

Esteja sempre atento aos interesses e aos valores por trás do que "consumir" mentalmente, fisicamente, financeiramente. É a sua integridade e a sua possibilidade de crescimento sadio ou patológico (doentio) que está em jogo.

Artigo de: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
www.institutoatena.com
Criador dos cursos
A Jornada do Herói
e
A Arte da Guerra

________________
¹ Waka: A palavra significa "Canção do Japão" ou "Canção em Harmonia", que designa um poema de trinta e duas sílabas.
² Chá: A arte de beber chá seguia um ritual simples até hoje ensinado nas escolas. Ficou conhecido no Ocidente como o ritual do chá, feito basicamente por duas pessoas.
³ Arco e Flecha: Assim como o chá e a espada, a arte do arco e flecha é praticada em um ritual. Foi a principal arma do samurai nos períodos Nara e Heian, sendo que, mais tarde, cedeu lugar à espada. Contudo, não perdeu sua importância cultural, aparecendo habitualmente nas ilustrações que representam o aparato portado pelos deuses. O deus da Guerra Hachiman costuma ser representado como um arqueiro.

terça-feira, 10 de abril de 2012

A Mente do Herói na Jornada

Trabalhar com a Jornada do Herói é ter a fantástica possibilidade de observar, dia a dia, a maravilhosa potência dos conteúdos da mente e buscar criar - esforço e tarefa heróica - um fluxo criativo e orientado de ações com essas energias. Ações orientadas por uma meta bem estipulada. Para que as ações ocorram, para que os heróis da Jornada possam liberar a energia psíquica necessária para transformar em ato as decisões e planificações efetuados no início da Jornada, é preciso que façamos o mesmo caminho que todo herói em toda mitologia mundial fez: liberar o potencial da libido(energia psíquica) no inconsciente.

As águas retidas
Em várias tradições mitológicas ao longo da história da humanidade veremos a questão da retensão e liberação das "águas do mundo". Na Índia esse é o tema central da mitologia de Indra (o equivalente hindu do Zeus grego): O dragão-serpente Vritra rompe o fluxo natural da vida no universo ("Rita" é o nome desse fluxo que ele rompe) ao prender as "águas do mundo" e então Indra, a divindade do raio, do trovão e das tempestades, tem de abatê-lo com um raio para que o fluxo das águas seja liberado e restabelecido.

É preciso uma iluminação (raio) orientada da consciência (Indra) para que o fluxo poderoso da energia psíquica (águas primordiais) possa jorrar naturalmente e começar a recriar e restabelecer a nossa energia criativa e o nosso contato com a dinâmica natural do movimento da nossa psique. É a isso que as mitologias ao redor do mundo chamam de restabelecer a "Ordem do Mundo". Por isso Zeus faz o mesmo derrotando o dragão-serpente Tífon e, posteriormente, Apolo, um dos filhos de Zeus, faz o mesmo derrotando o dragão-serpente Píton, filho de Tífon. São gerações efetuando o mesmo gesto simbólico de salvaguardar seu poder de contenção e liberação das energias que passam pelo eixo do ser.

Quando Zeus mata Tífon - depois de ter seus tendões dos calcanhares arrancados por essa criatura e recosturados por seu filho Hermes - ele restabelece a nova ordem no mundo, onde ele se coloca como governante. Psiquicamente é a consciência adquirindo poder sobre a dimensão inconsciente e orientando sua iluminação e ação através do foco (raio).

Esse processo ocorre na Jornada do Herói de forma constante através de suas quatro etapas: Paideia, Katábasis, Anagnosis e Apoteosis.

Paidéia, a dúvida elementar
Na Paidéia, fase que chamamos também de "educação iniciática" aprendemos a olhar o mundo com novos olhos e a perceber os valores e crenças que são as fundações do nosso mundo e da representação de universo que fazemos. Lembrando que, de acordo com a programação neurolingüística, nós não reagimos ao mundo e sim à representação que temos desse mundo. A realidade, em si, não é acessível a nós nem a ninguém. Vemos o mundo através das nossas experiências nesse mundo, das nossas próprias crenças e valores, nos nossos filtros internos, da nossa cultura e da forma como fomos socializados para viver em sociedade. O fator mais importante da Paidéia, além de aprender as técnicas que serão necessárias ao longo da jornada nas demais fases, é que possamos começar a compreender que esse mundo em que vivemos foi criado por seres humanos que já não estão entre nós e que a nós cabe, hoje em dia, duvidar de forma saudável de que esse seja o melhor dos mundos possíveis. Através da dúvida surgirá a brecha para toda a criação a ser efetuada posteriormente.

É na brecha que a dúvida ria no solo das certezas cotidianas que plantaremos a semente do amanhã.

Uma das técnicas primárias da Paidéia e uma das mais importantes é justamente estabelecer, por escrito através de um caminho de perguntas bem detalhadas, a meta que temos para o curso ou para a nossa Jornada pessoal. É como definir o código genético da semente, a forma pela qual ela irá crescer.

Katabasis, penetrando nas fundações
Na Katábasis, fase que chamamos de "mergulho nas trevas", penetraremos nas fundações dessas crenças nossas e sociais, pessoais e culturais, laborais e lúdicas que formam a nossa concepção de mundo. Ali perceberemos a intenção positiva dos comportamentos que já não são mais compatíveis ou congruentes com a nossa vida atual. É natural que alguns comportamentos que funcionavam no passado não sejam mais funcionais no presente, mas ainda assim eles detêm uma certa intenção positiva, seja ela de "proteger", "salvaguardar", "manifestar suas emoções", "delimitar o seu espaço e os seus limites" e por aí vai. Na Katábasis, observando o que queremos usar para edificar nossa Jornada pessoal e o que podemos resumir à intenção positiva e descartar as cascas comportamentais que já não condizem com nossa idade, vida ou atmosfera, podemos começar a reintegrar e fortalecer as fundações desde abaixo.

Nesse mergulho nós revisitamos conteúdos internos nossos e reintegramos cada um deles, ou pelo menos suas intenções positivas ao que pretendemos para daqui por diante.

Anagnosis, o que vês ao nascer
Na Anagnosis, fase que também chamamos de "conhece-te a ti mesmo", usamos arquétipos e mitos gregos como filtros ou mentores para observar nossa Jornada, nossas metas, projetos e planos. Através desse filtro energético a mente do herói começa a reconectar-se à sua vida do cotidiano, mas de uma forma completamente nova, plena de energia e discernimento. O mergulho na Katábasis ampliou o gradiente energético, liberando a libido para que possamos usá-la em favor de nossas próprias demandas, mas de forma criativa e equilibrada. Trabalhamos especificamente a questão do equilíbrio dinâmico na execução de nossas técnicas nessa fase da Jornada. Equilíbrio dinâmico é a noção de que não precisamos estar estáticos ou imoveis dentro de um estado paradisíaco da mente, mas que na avalanche de atos e circunstâncias do dia a dia precisamos "dançar ao som da música" sem nunca perdermos a consciência de nosso eixo e de nosso foco.

Na Anagnosis a mente criativa enraíza-se para dentro do cotidiano, levando consigo de forma potencializadora, criativa e centrada a estrutura do dna criada na nossa meta estabelecida na Paidéia, na primeira etapa de nossa Jornada.

Apoteosis, encontro com os deuses
Na Apoteosis extravasamos nossas energias para o resto do mundo. A energia telúrica (da terra) que remexemos e "cozinhamos" na Katábasis e que nos impulsionou para a consciência de uma forma mais íntegra e coerente para renascermos na Anagnosis, onde usamos essa libido (essa energia psíquica) como uma tinta para tatuar os atos de nosso dia a dia como se deixássemos a cada passo um pouco de nós mesmos e reconstruíssemos o universo ao nosso redor não só à nossa imagem e semelhança, mas observando nos olhos dos que nos cercam tendo a consciência de que observamos os demais deuses responsáveis pela manutenção desse firmamento em que estamos. São técnicas que ampliam e excitam o que temos de criativo, potencializador, amoroso e tolerante em nós.

É essa a viagem da mente do Herói na Jornada, um mergulho profundo que antecede um salto quântico.

Texto por: Renato Kress

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A serpente e a semente

Estar Vivo

A única razão para viver é estar completamente vivo;
e você não pode estar completamente vivo se está esmagado por um medo secreto
e oprimido pela ameaça: Ganhe dinheiro, ou coma merda!
E forçado a fazer mil coisas sórdidas, piores do que sua natureza,
e forçado a se agarrar às suas posses na esperança de que elas o façam sentir-se seguro,
e forçado a observar cada pessoa que se aproxima com medo de que ela o derrube.

Sem um pouco de confiança uns nos outros, não conseguimos viver.
No fim, ficamos loucos.
É o castigo do medo e da mesquinhez, sermos piores do que nossa natureza.

Para estar vivo você deve sentir um fluxo generoso,
e sob um sistema competitivo isso é impossível, na verdade.
O mundo está aguardando novo e grande movimento de generosidade,
ou por uma grande onda de morte.
Precisamos mudar o sistema e fazer a vida livre para todos os homens,
ou veremos os homens morrerem, e então morrermos nós mesmos. - William Blake


Serpentes
Semana passada, lendo sobre Zeus para um trabalho do Instituto ATENA, depois de ler mais de dez capítulos do Gênesis, católico, me peguei pensando na imagem da serpente. Na Teogonia, poema épico do poeta grego Hesíodo, Zeus luta contra Tífon, um dragão (serpente alada) de cem cabeças que nasce de Gaia, deusa-terra. No Gênesis católico Yahvéh (o Deus hebraico) pune Adão e Eva por dar ouvidos à serpente e comer do fruto proibido. Então me dei conta de que em outra leitura, dos vedas, a divindade Indra (o "Zeus" dos hindus) elimina a "serpente cósmica" Vritra e que na Babilônia o deus Marduk elimina o dragão (mais uma serpente voadora) Tiamat, cada um deles dando origem a uma nova ordem do mundo.

Aspectos da nova ordem:
Politicamente essa nova ordem, com a instauração de uma nova divindade, poderia significar a chegada de levas populacionais num determinado espaço de terra, ou a emergência de uma nova camada da população que agora tomava a rédea daquela sociedade nas mãos. Psicologicamente esses reis ou deuses solares que vencem dragões representam o domínio da consciência sobre as forças das trevas, do inconsciente. Culturalmente poderia significar um movimento de saída de uma cultura de cunho matriarcal para uma cultura de cunho patriarcal, com as vantagens e desvantagens próprias das duas.

A serpente e o homem
O importante, aqui, é perceber que, no ocidente, é comum que a imagem da serpente, como a do dragão esteja associada à própria contrariedade do homem. Enquanto o homem está situado no final de um longo esforço genético, a serpente, essa criatura fria, sem patas e sem pêlos, está no início dele. Homem e serpente, em um certo sentido, são rivais ou, simbolicamente, complementares: Enquanto o homem representa a psique evoluída, superior, a serpente representa a psique inferior, obscura, rara e incompreensível, a parcela misteriosa de nossas mentes.

Serpente, alma, libido
A serpente, para alguns autores como André Viril, não passa de uma linha, mas uma linha viva. Uma abstração, mas uma abstração encarnada. A linha, se levarmos em consideração a matemática de Pascal, não tem início nem fim, e, quando se move, torna-se passível de todas as representações e metamorfoses. Dela, só enxergamos a parte exposta, manifesta e sabemos que ela continua.

Segundo Chevalier "A serpente visível é uma hierofania do sagrado natural, não espiritual, mas material.". Do seu comportamento podemos fazer observações sobre o tempo, que escorre como uma serpente, do espaço e das regras, de onde ela se refugia pelo "mundo de baixo", aquele buraco obscuro de onde ela surge e por onde ela se esvai, a fenda ou rachadura.

Essa serpente enigmática, secreta, age como nosso inconsciente. É impossível prever suas decisões, súbitas como seus ataques. Existe em várias culturas a imagem de um poço ou fosso recheado de serpentes, onde todas elas formariam, juntas, uma única multiplicidade primordial, uma coisa indivisível que não cessaria de enroscar-se e desenroscar-se, desaparecer e renascer. É uma das imagens mais conhecidas e autoexplicativas para a dinâmica do inconsciente.

Serpente-vida
Os Caldeus usavam a mesma palavra para vida e para serpente. Em árabe, a serpente é el-hayyah e a vida, el-hayat, sendo que um dos nomes de Deus é El-hay, ou aquele que traz a vida, o vivificante. Quando as religiões solares - entre elas o catolicismo - engendram um "Deus do Céu" que entra em combate com uma divindade da terra - a cobra, uma serpente, um dragão marinho como o Leviatã bíblico, etc - elas criam uma dissolução entre matéria e espírito que é danosa para ambos.

Na maior parte das mitologias, após a vitória sobre a serpente-dragão, a divindade do Céu consagra ou interioriza um aspecto da divindade da terra. Quando Zeus elimina Tífon ele ergue um templo em sua homenagem, gesto primordial imitado por Apolo - divindade de caráter solar que elimina Píton, serpente que nasce do corpo putrefato do dragão Tífon - que ergue o Oráculo de Delfos sobre o corpo da serpente mítica eliminada por suas flechas. Atená, após auxiliar o herói Perseu na vitória contra a górgona Medusa (sob cuja cabeça dançavam serpentes vivas no lugar de mechas de cabelo), coloca a cabeça dela sob sua égide, seu escudo, e, através dele, passa a paralisar de medo seus adversários.

Enantiodromia, Esquizofrenia e Saúde mental
A serpente, na sua característica de mudar de pele, é símbolo da vida que se renova enquanto passa e, também, da imortalidade. O ocidente começa a operar um corte com as tradições míticas quando elimina a serepente - o princípio da vida, princípio de mudança e imortalidade - sem se apropriar das características positivas do símbolo. Quando Yahveh simplesmente pune e descarta a serpente ele tira do homem (Adão) a sua imortalidade primordial tanto quanto o tantrismo redescobre a serpente, a Kundalini, enroscada na base da coluna vertebral, ele redescobre esse fluxo da vida.

A "perfeição" intolerante
Pode ser lindo, mas é só um pólo.
Todo absoluto é patológico.
O ideal de perfeição solar, imóvel, incorruptível, onisciente, onipresente e onipotente muitas vezes não dá lugar à naturalidade do perverso, do sujo, do morto, do erro. É um ideal totalitário que muitas vezes não enxerga ou até procura eliminar tudo o que seja diferença ou movimento, tudo o que seja natural da própria vida. Vivemos numa sociedade onde a assepsia domina e somos levados a acreditar que é um mundo saudável, onde separamos e analisamos e buscamos dominar o universo ao redor, afinal, crescemos ouvindo que a natureza da matéria é o pecado e a do espírito a evolução, enfim que "a matéria é ruim e o espírito é bom, belo e justo".

O psicólogo suíço Carl Gustav Jung, obcecado pelo estudo da dimensão inconsciente de nossas mentes, trouxe da alquimia medieval o termo "enantiodromia", que significa que  superabundância de uma força produz seu inverso. O excesso de limites de uma sociedade dará ensejo a uma nova geração libertária tanto quanto uma geração excessivamente liberal tenderá a gerar filhos reacionários e tradicionalistas. A enantiodromia - que pode ser compreendida historicamente por uma análise dialética de caráter hegeliano - é um processo de cristalização da psique que é danoso ao fluxo normal da energia psíquica, que é o que mantém a saúde mental. É preciso que a energia flua, que as idéias mudem, que os conceitos se transformem, que os pensamentos, como as serpentes, se livrem das cascas carcomidas pelo tempo, ainda que mantendo sua intenção positiva primordial, seu intento primário.

Quando cortamos a ligação entre as idéias (dimensão aérea) e a matéria (dimensão terrestre) não só damos vazão a condutas danosas para o nosso meio ambiente - qual o problema em devastar, aniquilar, extinguir espécies vegetais e animais se a matéria é eminentemente, ruim? - como também efetuamos um corte, uma esquizofrenia (em grego σχιζοφρενία; σχίζειν, "dividir"; e φρήν, "phren", "phrenés", no antigo grego, parte do corpo identificada por fazer a ligação entre o corpo e a alma) que nos leva a priorizar o espírito em detrimento da matéria, ou a crer que um seria essencialmente superior a outro. Esse corte, essa esquizofrenia, esse matar a serpente sem apropriar-se de suas qualidades positivas, é o germe de todo totalitarismo, de toda unilateralidade que procura justificar a morte da vida enquanto mudança perpétua e a torna berço de todas as intolerâncias, preconceitos e discriminações.

A Jornada, o mergulho, a serpente
Na segunda fase do treinamento A Jornada do Herói, no momento da Katábasis, do mergulho nas trevas, entramos em contato com a nossa "Hidra de Lerna" pessoal, com o dragão "Fafnir" que Siegfried (nosso ego heróico) elimina na floresta (representação do inconsciente, da dimensão misteriosa de nossa mente), mas, acima de tudo, aprendemos que Hércules, quando matou a Hidra, tornou-se um pouco a própria Hidra, quando molhou suas flechas no veneno mortal que escorria do pescoço dessa serpente do pântano de Lerna ou que Siegfried, ao matar Fafnir, bebeu do sangue que jorrava do pescoço do dragão-serpente e, desde então passou a ouvir o "chamado da natureza" e conhecer as línguas de todos os animais. Ignorar a dimensão ctônica (subterrânea) e telúrica (terrestre) é ignorar a própria vida em sua dimensão mutável e flexível, em sua dimensão adaptável. É abrir caminho para uma dimensão solar de isolamento, intolerância e rejeição do corpo e, por enantiodromia, da própria alma.

Ao finalizar este artigo me vêm à mente as palavras de dois dos baluartes da nossa ciência ocidental contemporânea: Darwin e Einstein. O primeiro dizia que na natureza (sistema aberto e complexo) sobrevivem não os mais fortes nem os mais espertos, mas os mais capazes de se adaptar. Ou seja: na vida, sobrevêm os que seguem o fluxo da própria vida, e ela muda. O segundo concluiu pela física que não há distinção entre energia (espírito) e matéria (corpo), afinal "Energia é igual a massa vezes movimento ao quadrado" ou E=mc². Só estamos vivos, nesse planeta, porque não estamos perto nem longe demais do sol.

Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
Criador do Treinamento registrado A Jornada do Herói®

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Serendipity: Pronto e disperso


Esse ano se eu pudesse escolher uma palavra para todos os clientes, amigos e familiares, seria “Serendipity”. Serendipity é um termo inglês criado por uma corruptela lingüística da palavra “Sarandwypha”, que é o antigo nome da ilha do Ceilão (antigo Sri Lanka). É um tipo de Jornada heróica em que a aventura começa justamente quando o protagonista está simultaneamente “pronto e disperso”, só então, num momento de insana lucidez, ele percebe todo um novo mundo que sempre esteve ali...
Ciência e literatura
O termo "Serendipity" (ou em português "serendipidade") foi cunhado pelo escritor Britânico Horace Walpole a partir do conto "Os três Príncipes de Serendip". Nessa história os três príncipes viviam fazendo descobertas ao acaso, levados principalmente por suas mentes abertas ao inesperado.

Na história da ciência, muitos foram os casos de "Serendipity": A descoberta da Penicilina por Alexandre Fleming, Arquimedes com os fundamentos da hidrostática, Tales de Mileto na descoberta do elétron e muitos outros.

Mitos e Jornadas
Em mitologia são várias as histórias em que um herói sai à caça de um animal com alguma característica especial, como um pássaro com chifres, um javali branco, um leão anormalmente grande etc, ou mesmo corre a mata atrás de uma erva mágica ou artefato específico e, subitamente, vê-se num novo mundo, um espaço totalmente desconhecido onde, a partir de então, sua tarefa será desbravar esse novo mundo ou tentar regressar para o mundo conhecido.

Essas jornadas, em geral, têm uma característica centrífuga no início e centrípeta no fim. O herói fasta-se de um centro ordenador, de uma ordem estabelecida, rumo a um novo centro, seja ele criado ou o mais comum,  descoberto por acaso num momento em que o herói "pronto" - treinado, hábil - está distraído. Como quando  depois de uma longa batalha o grande guerreiro, exausto, limpa o rosto num rio e, distraidamente, vislumbra nas águas turvas as luzes translúcidas de uma cidade submersa.

Olhares
Quando olhamos o mundo com novos olhos, tudo parece novo, assustadoramente mágico e diferente. A novidade pode ser excitante ou pavorosa, ou simultaneamente sedutora e mortal. Sair do espaço conhecido, sair do centro delimitado de nossa cultura, das nossas convenções e percepções é uma tarefa heróica, é empreender uma jornada. A diferença entre a Jornada clássica e a Serendipity é que nessa última tudo parece ocorrer como que "por acaso", por "obra do destino". Mas apenas parece.

Prepare-se! Relaxe... Olhe!
Para viver uma Serendipity é necessário estar preparado, tornar-se hábil e exercitar a percepção. Ver além do que está implícito é um exercício conhecido como "olhar antropológico", o olhar que não toma por "natural" quase nada, que observa os jogos e as dinâmicas psíquicas, sociais, sexuais, familiares e culturais por trás do mais simples gesto. Um olhar que procura a fonte do gesto e se pergunta se não é possível satisfazer os desejos implícitos naquela fonte de outra maneira, por outras vias, formas, idéias. É um olhar que cria e recria o mundo, um olhar que inova e transcende aquilo que está posto. O olhar que desejo a todos.

Desejo aos meus clientes, heróis, amigos e colaboradores do Instituto ATENA, um ano de descobertas sensacionais, de prontidão dispersa, de alegria de viver e de criatividade no olhar. Que todo um novo mundo desabroche diante dos teus olhos maravilhados e traga com ele o elo entre o melhor de si e o melhor a fazer.

Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA